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Eu, jogos e o cotidiano.

Atualizado: 8 de mar.

Inspirado pelo texto do Rafael Braga no site da Controles Voadores, decidi escrever sobre o tema: relações pessoais com jogos.

Eu mexi em um controle de Atari antes de saber falar. Dos anos 1980 pra cá, eu cresci tendo como principal parceira as personagens dos meus jogos favoritos. Um dia, tomei coragem de resgatar uma demanda da minha criança interior e comecei a aventurar pelo gamedev.

Dentre as engines, escolhi o meu amado Rpg Maker, em que muito alegremente estudo possibilidades lúdicas para, quem sabe, lançar algo comercial um dia. E então vejo o texto mencionado no início.

Deixo um pouco o Dovah de lado e sigo pro meu dia a dia. Sou docente. Também bacharel em Direito. E faz mais de uma década que não lia um livro despropositadamente. Inclusive, ampliei isso para outras áreas. Como isso chega aos jogos? Entrar no gamedev me ressucitou a paixåo por explorar, aprender e compartilhar. E me fez rever minha relação com livros e filmes. Tudo porque me deu um objetivo a mais, que estava adormecido, latente, e acorda faminto por novidades.

Ainda tenho olhar crítico, desfragmentador e analítico para quase tudo, porém considero isso parte da minha identidade. Meu propósito maior talvez seja esse. E por causa disso, pasmem, consigo "jogar o que gosto", e voltei a "ler o que eu quero", porque dei um novo significado para essas ações.

O texto de Braga fala sobre as obrigações do cotidiano engolindo nossa autonomia para ser feliz, nossos momentos desfocados. Eu aprendi a dosar porque encontrei o contrapeso no gamedev, é a minha identidade de relação com os elementos do mundo.

Dentro da comunidade, eu me sentia um zero à esquerda por não ter a vivência com clássicos como os colegas têm. Agora eu pego um clássico com o propósito de estudar ele e consigo reverter muitas questões internas, especialmente de gostos, para ter uma opinião.

Talvez pareça que eu contradigo Braga, mas não. As demandas do mundo nos engolem porque não as escolhemos e então a possibilidade de escolher desaparece e isso nos leva à infelicidade e à lenta morte de apenas sobreviver. Eu me dei o direito de escolher e isso me tornou livre.

Braga também nos fala sobre o oceano de estímulos informativos que temos, e que se não tivermos um direcionamento a gente morre agorado em dados. Milhares e milhares de opções, qual escolher e por quê? A nossa vontade pessoal deveria ser a única razão aceita.

Hoje eu crio jogos para deixar flutuando ns Itch, escrevo nos fóruns pra que alguém leia um dia, criei esse site para que alguma pessoa desavisada respire um ar diferente com os olhos. Tenho vontade de criar algo comercial? Sim! Mas enquanto isso eu me alimento de mundos (plural) para fortificar a parte de mim que vai viver para sempre: minha criatividade.


Joguem os jogos que vocês quiserem, tenham-se como público de suas obras, escolham-se sempre para, até quando forem escolhidos, possam ter feito essa decisão de alguma forma.



Ouça, Virgínia, é preciso amar o inútil. Criar pombos sem pensar em comê-los, plantar roseiras sem pensar em colher as rosas, escrever sem pensar em publicar, fazer coisas assim, sem esperar nada em troca. A distância mais curta entre dois pontos pode ser a linha reta, mas é nos caminhos curvos que se encontram as melhores coisas.

Lygia Fagundes Telles, Ciranda de Pedra


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O texto chegou como um sopro, nitidamente vindo do coração do dragão. Amo textos pessoais e como forçam a reflexão, me sinto meio Dovah agora.

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