Oh, o Horror!
- Misterdovah
- 1 de mar.
- 4 min de leitura
Atualizado: 3 de mar.
Você aperta os botões do teclado e os solta à medida que ouve um estalo, um sussurro, uma batida. Tudo o que existe na sua mente concentrada é uma realidade em que você não se encontra, mas somatiza seus efeitos. Tanto é verdade que exita em apertar o botão de ação, muda a postura na cadeira e dá algum espasmo no corpo quando algo esperadamente inesperado salta na tela. Você está em estado de imersão.
O percurso em que isso se desenvolve necessita de uma ambientação muito específica que, dentro do worldbuilding, evoca do designer elementos semióticos que competem para alterar o estado mental e emocional do jogador, seja pré ou pós a apresentação do grotesco clímax narrativo. É aí que dois conceitos, tidos como sinônimos, entram em ação.
Criar uma atmosfera de horror com eficácia não é fácil. Sons e imagens competem para isso, além de outros elementos responsáveis para prender a curiosidade do jogador até a solução do conflito. Este texto não é para tratar sobre como criar essa atmosfera, mas para analisar como jogos alcançaram isso a partir de detalhes importantes.
Terror e Horror são gêneros literários que acompanham a criação artística da humanidade desde os primórdios, bem como o Drama, que não será estudado agora. Você sabia que Terror e Horror possuem uma nuance de significado? Vamos ver dois exemplos de parágrafos narrativos criados para este artigos e depois para um conceito científico:
Felipe caminha lentamente pela casa. A porta se abriu sem mãos que a puxassem e fechou-se repentinamente com sofreguidão. Aquela escuridão toda guardava a promessa de uma falange inteira de espíritos espectadores de sua desgraça. Passo a passo, ele mergulhada em um abismo cada vez mais escuro longe das frestas da janela. Chão rangendo, ar sufocante, passos...
Felipe abre a porta da cozinha e vê um rato gigante devorando sua vizinha. A mulher, já morta, sentada à mesa, desistente da vida, enquanto o animal assombror raspa com seus dentes a carne de seus ossos. Entre uma mordida e uma lambida, vira seus olhos para Felipe com um misto de provocação, deboche e convite. Momentos depois, empurra o cadáver para trás, que cai no chão de costas e a cabeça se desprende do pescoço.
Observe que em nossa narrativa Felipe, o protagonista, vivencia dois momentos de tensão no ambiente: no primeiro parágrafo, ele é submetido a uma promessa de assalto, o que lhe alimenta o medo sem descortinar a origem. Nesse caso, Felipe vivencia o TERROR. No parágrafo seguinto, há a exibição do grotesco, da fonta das sensações anteriormente sentidas, com a visão do corpo e do monstro. Nesse caso, Felipe vivencia o HORROR.
A separação acima é inspirada na fala do escritor especialista no assunto Devendra Varma, que, em seu livro THE GOTHIC FLAME afirma:
“A diferença entre Terror e Horror é a diferença entre a terrível apreensão e repugnante compreensão: entre o cheiro da morte e tropeçar em um cadáver”.
Semelhante a isso temos a contribuição de Stephen King que traz o Terror como a sensação psicológica de medo e o Horror como a reação ao que causava medo.
Portanto, temos algumas hipóteses para refletir:
I) O Terror e o Horror andam juntos? - Sim. Eu diria que um impacto horrorizante bem sucedido depende de uma promessa aterrorizante bem construída. Lembre de jogos como Resident Evil I. A mansão é apresentada, o cenário caótico e assustador engole o jogador, ruídos e mistério sem saber o que causou o desaparecimento da equipe. Isso é Terror. Em dado momento, o jogador abre uma porta e se depara com um zumbi devorando um componente da equipe. Isso é Terror, pois o grotesco que envolve a narrativa se mostrou. É por essa razão que filmes como os da saga Terrifier chegam a ser cansativamente repulsivos: o horror toma conta de tudo com muita morte, sangue e esquartejamento sem motivação, o escatológico para até uma personagem de tão presente que é.
II) O Terror tem um pouco de Suspense? Sim. Se fossem parentes seriam primos. O Terror é aquela corda bamba de que algo muito ruim vai acontecer e é exatamente isso que se espera.
III) O elemento jumpscare é necessário? Não. É um momento de quebra de expectativa em que se transita o Terror e o Horror, deixando o jogador com a sensação de imediatismo de reação. Cuidado com o excesso dessa ferramenta, pode levar à monotonia e isso afasta o jogador da imersão.
Meu interesse pelo terror se deu por conta do projeto que construí em 2024 chamado Terra-Meio, no qual pude explorar essa veia de construção ainda muito rasa no meu gamedev. Mas, seguem alguns outros sucessos de RPG Maker para degustação:
1- ALONE: um game simples, curto e até clichê. Narra uma noite inesquecível (e dependendo do final, a última) de Yeongchul, um jovem que retorna do trabalho e pretende falar com sua namorada antes de dormir, porém descobre que algo está errado quando percebe que não é com ela que ele fala e passa a ser perseguido por uma presença estranha. O jogador deve, então, investigar o apartamento em busca de pistas e, em oito minutos, se defender da ameaça. Para tanto, o jogo dispõe um sistema de stamina e insanidade que são consumidos nos erros e acertos da investigação.
2- OUIJA SLEEPOVER: a premissa é também simples, basicamente um jogo de fuga. Aiden e Dan são dois rapazes que vão ter uma noite romântica enquanto a roomate de Aiden não está em casa. Nessa noite, Aiden encontra um tabuleiro de Ouija e decidem jogar. Como resultado, ambos são teleportados para uma dimensão umbralina do prédio em que estavam e devem escapar de uma terrível presença enquanto descobrem algo muito tenebroso do local.
3- O Site Zero Corpse: mergulhem em uma galeria de jogos legacy de RPG Maker da era de ouro do 2d. Super indicado para quem quer explorar essas obras.
Se quiser ler um artigo sobre o assunto, sugiro este.
Nos vemos em novas postagens.
C ya. #keepmakering
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